Você precisa se aceitar, e aceitar verdadeiramente a vida
Quando você aceita o que é, atinge um nível mais profundo. Nesse nível, tanto seu estado interior quanto sua noção de “eu” não dependem mais dos julgamentos feitos pela mente do que é “bom” ou ruim.
Quando você diz “sim” para as situações da vida e aceita o momento presente como ele é, sente uma profunda paz interior.
Superficialmente, você pode continuar feliz quando há sol e menos feliz quando chove; pode ficar contente por ganhar um milhão e triste por perder tudo o que tem. Mas a felicidade e a infelicidade não passarão dessa superfície. São como marolas em volta do seu ser. A paz que existe dentro de você permanece a mesma, não importa qual seja a situação externa.
O “sim” para o que é mostra que você tem uma dimensão de profundidade que não depende das condições externas nem das internas, com seus pensamentos e emoções sempre flutuantes.
A aceitação e a entrega se tornam muito mais fáceis quando você percebe que todas as experiências são fugazes e se dá conta de que o mundo não pode lhe oferecer nada que tenha um valor permanente. Ao aceitar e entregar-se, você continua a conhecer pessoas e a se envolver em experiências e atividades, mas sem os desejos e medos do “euzinho”. Ou seja, você deixa de exigir que uma situação, uma pessoa, um lugar ou um fato o satisfaçam ou o façam feliz. A natureza passageira e imperfeita de tudo pode ser como é.
E o milagre é que, quando você deixa de fazer exigências impossíveis, todas as situações, pessoas, lugares e fatos ficam satisfatórios e muito mais harmoniosos, serenos e pacíficos.
Quando você aceita totalmente o momento presente, quando deixa de discutir com o que é, a compulsão de pensar diminui e é substituída por uma calma atenta. Você fica plenamente consciente, mas sua mente não dá qualquer rótulo para esse momento. Quando você deixa de resistir internamente, abre-se para a consciência livre de condicionamentos, que é infinitamente maior do que a mente humana. Essa vasta inteligência pode então se expressar através de você e ajudá-lo tanto por dentro quanto por fora. É por isso que, ao parar de resistir internamente, você costuma achar que as coisas melhoraram.
Você acha que estou lhe dizendo “Aproveite o momento. Seja feliz”? Não.
Estou dizendo para você aceitar esse momento tal como ele é. Isso já basta.
A entrega consiste em entregar-se a esse momento, e não a uma história através da qual você interpreta esse momento e depois tenta se conformar com ela.
Por exemplo: você pode sofrer um acidente e ficar paralítico. A situação real é esta.
Será que sua mente vai inventar uma história que diz: “Minha vida ficou assim, acabei numa cadeira de rodas. A vida foi dura e injusta comigo. Eu não mereço”?
Ou será que você é capaz de aceitar esse momento tal como é e não confundi-lo com uma história que sua mente inventou a partir da situação real?
A aceitação e a entrega existem quando você não se pergunta mais: “Por que isso foi acontecer comigo?”.
Mesmo nas situações aparentemente mais inaceitáveis e dolorosas existe um profundo bem. Dentro de cada desgraça, de cada crise, está a semente da graça.
A História mostra homens e mulheres que, ao enfrentarem uma grande perda, doença, prisão ou a ameaça de morte iminente, aceitaram o que era aparentemente inaceitável e, assim, encontraram “a paz que vai além de toda a compreensão”.
Aceitar o inaceitável é a maior fonte de graças que existe.
Há situações em que nenhuma resposta ou explicação satisfaz. Nesses momentos a Vida parece perder o sentido. Ou alguém em desespero pede sua ajuda e você não sabe o que dizer ou o que fazer.
Quando você aceita plenamente que não sabe, desiste de lutar para encontrar a resposta usando o pensamento de sua mente limitada. Ao desistir, você permite que uma inteligência maior atue através de você. Até o pensamento pode se beneficiar com isso, pois a inteligência maior flui para dentro dele e o inspira.
Às vezes, entregar-se significa desistir de querer entender e sentir-se bem com o que você não sabe.
Você conhece pessoas cuja maior função na vida parece ser cultivar a própria infelicidade, fazer os outros infelizes e espalhar infelicidade? Perdoe essas pessoas, pois elas também fazem parte do despertar da humanidade. O papel delas é intensificar o pesadelo da consciência autocentrada, da recusa à aceitação e à entrega. Não há uma escolha deliberada na atitude delas. Essa atitude não é o que elas são.
Pode-se dizer que a entrega é a transição interior da resistência para a aceitação, do “não” para o “sim”. Quando você se entrega, a noção que tem de si mesmo muda. O “euzinho” deixa de se identificar com uma reação ou um julgamento mental e passa a ser um espaço em torno da reação ou do julgamento. O “eu” não se identifica mais com a forma – o pensamento ou a emoção – e você se reconhece como algo sem forma: o espaço da consciência.
Qualquer coisa que você aceite plenamente vai levá-lo à paz, o que inclui a aceitação daquilo que você não consegue aceitar, daquilo a que você está resistindo.
Deixe que a Vida seja.