A fábula do rato e da ratoeira.

Olhando por um buraco da parede o ratinho viu que os donos da casa tinham comprado uma caixa grande. Ficou muito curioso e pensou:

¾  O que será que tem ali de bom para eu comer? Quando olhou mais atentamente, notou que o embrulho continha uma ratoeira.

O ratinho ficou preocupado, afinal uma ratoeira é para pegar ratos e eu sou um rato... Ato contínuo saiu correndo e no caminho encontrou com a galinha;  apressado,  falou:

¾  Nós estamos correndo um sério risco! Os donos da casa compraram uma ratoeira.  Como vamos resolver esse problema?

A galinha respondeu:

¾  Não vejo nenhum  problema. Nunca vi alguém pegar galinhas com ratoeira. O senhor é quem deve  estar um pouco preocupado, até porque eu não fico lá dentro da casa comendo a comida  deles, nem fico me esgueirando pelos cantos. Sou uma pessoa importante nesta casa, eu  dou ovos diariamente.

E, assim falando, saiu toda imponente ciscando o chão.

O rato viu que não  tinha jeito de convencê-la e saiu correndo em desabalada carreira. Correu, correu e encontrou-se com o porco. Quase sem fôlego falou:

¾  Olha, o problema é bastante sério, compraram uma  ratoeira! O que é que a gente vai fazer?!... A galinha nem ligou...

O porco pensou um pouco e depois respondeu:

¾  Meu amigo, o que é que eu tenho com isso? Eu fico quase o dia todo preso  no cercado! Além do mais, o porco é — dentro do reino animal — um bicho importante,  quase que reverenciado! Eles precisam de mim, não vê como sou bem alimentado? E ninguém pega  porco com uma ratoeira... O senhor é que deve estar preocupado. Vou fazer o seguinte:  sempre que eu rezar vou pedir por você, orando que sua morte seja rápida...

Desesperado o  rato continuou correndo e encontrou-se com a vaca que descansava debaixo de uma árvore  frondosa. Chegou perto dela mais cauteloso e falou:

¾  Senhora vaca, compraram uma ratoeira! A  fazenda toda corre risco! Eu falei para a galinha, mas ela nem ligou. O porco riu de mim... E  quanto à senhora, pretende fazer o quê?

Respondeu a vaca:

¾  Eu??? E eu tenho alguma coisa a  ver com uma ratoeira? Nunca ouvi falar que uma vaca tenha sofrido algum tipo de constrangimento por uma ratoeira! Acho que o preocupado aqui é você... Eu não tenho nada com isso! Se eu fosse você corria e me escondia. Onde já se viu uma vaca ter  medo de uma ratoeira, logo o bicho mais importante do reino animal...

E o rato então,  preocupado e sem ninguém para ajudar, escondeu-se num cantinho e lá ficou quieto.  Nesta noite ouviu-se um grande barulho. A ratoeira tinha funcionado... Os donos da  casa se levantaram. A senhora foi rápido, no escuro, para matar o que houvesse sido preso. A ratoeira pegara uma cobra pelo rabo; era uma cobra muito venenosa e o bicho, vivinho da silva, picou a mão da senhora. E ela começou a ficar muito doente, com muita febre. Seu marido, preocupado porque ela estava com muita febre,  mandou matar a galinha e fazer uma boa canja. Uma canja bem grossa é ótima quando a pessoa está com febre. Mas a senhora não melhorava e teve que ser hospitalizada. Ficou no hospital durante uma semana. Vários parentes e amigos vieram visitá-la. O marido, sem saber como alimentar toda aquela gente que não parava de chegar, mandou matar o porco. Infelizmente, após uma semana senhora veio a falecer. A despesa com o enterro foi muito grande, e o marido viu-se forçado a matar a vaca e vender todos os pedaços para honrar os compromissos assumidos com o falecimento.

Então, a pergunta que devemos nos fazer é:

¾  Até quando vamos achar que aquele  acontecimento ou aquela pessoa não tem nada a ver com a gente, não tem nenhum  parentesco, não tem nenhum elo, não tem nenhuma proximidade? Será que não percebemos  que tudo e todos são totalmente interdependentes?

Então, quando alguém comprar uma  ratoeira, prestem muita atenção... Pode acabar interferindo na sua vida!